Reinizio, do Italiano: Recomeço

sexta-feira, maio 29, 2015

Eu naufraguei

       Eu naufraguei e, ainda por cima, na água salgada que eu mesma juntei. Achei que fosse sobreviver a toda essa tormenta e quando me dei conta eu já estava a mais de mil léguas submarinas, enterrada embaixo da areia mais profunda que eu já havia deparado-me, um sonho era tudo que me restava onde eu podia ouvir sua voz, já que meros humanos embaixo d'água não ouvem nada.
       Não vou dizer que não estou confortável, a água salgada, muitas vezes, é mais que um conforto, a gente nem luta, só segura a respiração e espera que alguém puxe-nos para fora da água, ou espera para morrer afogado, só mais uma vez, só afoga mais uma parte.
       São várias partes, nunca tinha visto tantas, algumas sentem raiva, outras tristeza, mas as piores são as que estão desesperadas por causa do naufrágio, essas morrem antes por desperdiçar tanta energia se debatendo e fazendo escândalo que até se esquecem de como é que se nada.
       E nada, nada muda, várias partes morrem esperando um resgate que não vai chegar nunca, o único resgate foi-se antes do naufrágio, o único que sabia como chegar em um porto. Não! Ele era o porto, era a bússola, era a cruz do norte, era tudo, tudo que me dava uma direção certa para onde seguir e agora, já naufraga, só me resta deixar que as ondas levem-me.
       Já me senti boiando entre as águas, mas também já senti que pesava mais de mil quilos, não sei o que é menos difícil, mas sei que jamais vou avistar meu porto de novo, jamais vou sentir o calor e a terra seca, não vou sentir seu cheiro que restava na memória, mas já perdeu-se em meio a brisa que insiste em me jogar pra trás.
       Meu porto que foi arrancado de mim com tal brutalidade e crueldade que já não me espanta o meu naufrágio, não me espanta, só dói.
       Há ainda algumas partes minhas que insistem em fazer-se de fortes e outras que preferem ficar na ignorância, são justamente essas que assumiram os remos do meu bote, mas elas não sabem remar e colocam-me em círculos de novo e de novo e, ainda por cima, elas brigam entre si porque nenhuma assume que está errada.
       Enquanto eu só olho, só assisto e encho ainda mais o mundaréu de água salgada que juntei, percebo que sou só meus cacos agora, só os cacos.
       De vez em quando até arrisco-me a olhar para o céu, podia até jurar que uma vez ele meteu-se a desenhar nas nuvens para mim. Foram tantas formas que eu vi, coisas bobas e indiretas que quaisquer pessoas que olhassem veriam e entenderiam também, mas o mais curioso eram nossos segredos escritos no céu, coisas que eram só dele e minhas, expostas para qualquer um ver, mas para ninguém entender. Esse dia até me encheu uma pontinha de esperança que logo as minhas partes desesperadas fizeram questão de afogar.

quinta-feira, maio 21, 2015

Eu não sei lidar com esse sentimento.
Em um segundo tudo o que eu tinha de mais precioso foi arrancado de mim.
Eu não consigo tirar aquela sua lágrima da minha cabeça, aqueles últimos sengundos em que pude segurar a sua mão e eu não sei se você estava lá me ouvindo.
Tudo o que eu queria era poder ter te trazido de volta pra casa.
Agora quando eu olho em volta só enxergo a sua ausência.
Dentro de mim só respira a sua ausência e a vontade de me destruir pra destruir esse vazio já não cabe mais aqui.
Às vezes fico desejando que você ainda estivesse aqui e que o real motivo da nossa separação tivesse sido algo horrível que um de nós tivéssemos feito, algo que mesmo que horrível poderia ser consertado se ambas as partes quisessem.
Não me consola nem um pouco o fato de você ter sido perfeito pra mim, não me consola a gente ter se amado até o último minuto, não me consola.
Nada que eu encontro aqui ainda me consola, às vezes me destrai, mas só e logo passa e logo toda a memória volta e eu fico implorando para te ter aqui de volta.
Não adianta me dizerem que agora você está em um lugar melhor, não me adianta de nada se eu não posso mais ouvir a sua voz saindo do seus lábios dizendo que me ama, dizendo boa noite. Não me adianta não poder mais te abraçar.
Tudo o que eu mais queria são essas coisas simples e bobas, mas que davam sentido à minha vida, davam sentido ao meu mundo, mundo em que agora eu permaneço para o conforto alheio, não o meu.
Esse mundo que agora eu enfrento todos os dias por não saber como fugir sem deixar pra tras a mesma ausência que você deixou.

segunda-feira, maio 11, 2015

Memorando

     Essa é a história de um baú e de como várias coisas ficaram trancadas dentro dele.
     Tudo começou em um verde hipnotizante que encontrei nos olhos de um alguém. Um alguém que por anos e anos roubou de mim a essência da minha alma. Fez de mim um elástico, esticando-me, puxando-me e depois soltando-me, deixando minha alma esgarçada.
     De tudo que foi modo ele enfeitiçou-me e jogou comigo e eu, de boba, sempre via-me lá a mercer de qualquer coisa que ele pedisse-me.
     Mas vamos falar do começo: ah! Aquela amiga que me apresentou o "bem dito" e minha vida mudou daquele dia em diante e eu mal sabia que aquele dia seria o começo do fim da minha paz. Logo eu que nunca me prendia a ninguém, logo eu que sempre partia os corações quando já achava que a pessoa já não tinha nada a acrescentar-me, logo eu, tive o coração que se prendeu naqueles olhos verdes que já me diziam que iriam torcer-me inteira, expremer-me como uma laranja até tirar de mim todo o suco da minha alma. E beijou-me os lábios, mas beijou-me como eu nunca tinha sido tomada antes e foi embora, deixou-me a imaginar se iria voltar, se iria tomar-me de novo, deixou-me de molho naquele beijo, esperando e torcendo para que voltasse.
     Fiquei de molho, curtindo naquele mundaréu de sentimentos, guardou-me na geladeira e quando achou que estava pronta, voltou. Ah! E voltou como eu achei que não voltaria, voltou já tomando-me pelos cabelos, puxando-me como um imã e por mais que eu quisesse fugir, já não podia. Quando me tomou pelos cabelos tirou-me toda a inocência, jogou-me na cama, mas jougou me conduzindo como se já tivesse jogado várias outras na cama, mas disse-me que não, disse-me que eu tinha sido a primeira.
E foram tantas esticadas, tantas vezes soltava-me e puxava-me e soltava e puxava e soltava e puxava. Foram tantas vezes deixando-me de molho que perdi as contas, que perdi as pontas.
     E mesmo agora, mesmo depois de tanto tempo, se alguém diz-me que ele andou pensando em mim, falando que pensa em mim, já estica minha alma, já tira-me o sono todo de novo, já dá-me vontade de sair correndo e de encontrá-lo sem importar-me com mais nada em volta.
     E sei que é idiotice minha, sei que nunca vai ser meu, assim como não foi de mais ninguém enquanto esticava-me. Porque eu não sei se assim como pensa em mim, não pensa em tantas outrasque deve ter esticado também ou se por uma ironia do destino que não nos quer juntos eu fui a única que foi esticada, se fui a única que o prendeu, mas que por medo não quis e até hoje não quer ver, mas não sei e, se depender dele, nunca vou saber.
     E é por isso e por tantas outras coisas que tranco ele dentro desse baú que só abro de vez em quando para dar uma espiada, pra sofrer propositalmente de saudade. Ele levou com ele minha alma e comigo só sobraram as memórias pra guardar.